«Faz-me tristeza pensar eu que floresci nesta futilidade da novela…», escreveu Camilo referindo-se em 1879 ao Amor de Perdição.
Aprendizagens essenciais:Amor de Perdição [escolher cinco de entre as secções seguintes: introdução, capítulos I, IV, X e XIX, conclusão]
– Introdução e conclusão (obrigatórias).
– Capítulos I, IV, X, XIX (escolher 3 destes capítulos).
– Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico.
– A obra como crónica da mudança social.
– Relações entre as personagens.
– Amor-paixão.
– Linguagem, estilo e estrutura:
- o narrador;
- os diálogos;
- concentração temporal da ação
MEMÓRIAS DE CAMILO NA CADEIA DA RELAÇÃO DO PORTO
Amor de Perdição As personagens principais
AMOR DE PERDIÇÃO [Material para estudar! Da editora Santillana
ESTUDO EM CASA:Amor de Perdição: análise do capítulo IV.| Aula 28| 30 min| 09 Mar. 2021
Padlet com trabalhos dos alunos
O HERÓI ROMÂNTICO EM “AMOR DE PERDIÇÃO”
Materiais da Areal editores sobre Amor de Perdição
Amor de Perdição é uma novela portuguesa, escrita por Camilo Castelo Branco, publicada em 1862 e que procura retratar a década inicial de 1800.
Simbologia na obra
Alguns elementos relacionados com os espaços que adquirem uma simbologia importante nesta
obra:
· as grades: além das grades materiais que impressionam Simão, simbolizam os obstáculos sociais
que motivam o seu encarceramento.
· a janela: é a ligação entre o interior e o exterior; é conotada, simbolicamente, com a
interioridade de Simão e de Teresa e com a sociedade. Funciona, ainda, como a separação entre as
personagens e o espaço social onde estão inseridas. Associada aos olhos, que são o “espelho da
alma”, refletem o interior psíquico das personagens que se situa a outros níveis presentes na obra,
através dos sentimentos dos protagonistas.
· os fios: simbolizam a ligação eterna dos amantes (as cartas) que não se desfaz após a morte, é
uma união total do par amoroso. Os próprios amantes acreditam nessa união eterna (as cartas são
testemunhas dessa teoria). Com a morte esse fio quebra-se, Mariana antes de se suicidar embrulha
as cartas no seu avental e lança-se ao mar, reatando de novo os amantes.
· o mar: é fonte de vida, para onde foi lançado o corpo de Simão, metaforicamente o lugar de
renascimento. O mar espelha o céu, o espaço onde os amantes poderiam consumar o seu amor
puro, pois na terra eram condenados pelos homens.
· o avental: assume um valor polissémico, ligado à condição social de Mariana e ao seu sofrimento;
ela limpa as suas lágrimas quando chora por Simão. Referências ao seu estado de loucura, quando
Simão está na prisão, num caixote encontram-se as cartas de Teresa e o avental de Mariana. A sua
simbologia reúne o trabalho e o martírio, significando o percurso de Mariana na terra que é uma
forma de purificação.
Desta forma, continua presente, simbolicamente, a tragédia do triângulo amoroso, vitimado por um
destino que os conduz à morte, única solução para a realização de uma vida cujos anseios mais
profundos das personagens eram irrealizáveis.
As cartas cumprem as funções seguintes:
- Servir de elo entre os dois amorosos;
- Informar o destinatário sobre os acontecimentos;
- Comunicar decisões tomadas;
- Persuadir o destinatário a adotar determinadas atitudes;
- Autojustificar os atos do destinador;
- Exprimir sentimentos;
- Introduzir a poeticidade romântica na narrativa.
1.ª carta: comunicação da hipótese de Teresa vir a ser encerrada no convento; promessa de fidelidade.
2.ª carta: informação de que Teresa já sabe o que se passou com os criados de Baltasar (emboscada); pedido de confiança nela.
3.ª carta: relata a sua entrada no convento, mostra-se firme e faz um apelo ao amor de Simão.
4.ª carta: apelo à fidelidade do amor e à fuga do convento.
5.ª carta: pede a Simão que vá para Coimbra e desabafa sobre a corrupção que reina no convento.
6.ª carta: pede a Simão que não vá para Coimbra, com receio de ser transferida para outro convento mais rigoroso.
7.ª carta: escreve esta carta como se fosse à última da sua vida, comunica o desejo de matar Baltasar e despede-se de Teresa.
8.ª carta: informa que está à par dos acontecimentos, fala da morte como o fim terreno mas também como a possibilidade de se encontrarem no Céu.
9.ª carta: Simão informa Teresa de que há possibilidade de salvação, pois não vai ser enforcado. Alude ao destino que os une e pede-lhe para não morrer.
10.ª carta: monólogo em que Simão se auto-analisa. Aumenta a qualidade da prosa poética.
11.ª carta: Teresa pede a Simão que aceite os dez anos de cadeia.
12.ª carta: Simão informa Teresa de que aceita o degredo.
13.ª carta: Teresa informa Simão de que vai morrer e pede-lhe perdão. Despede- se dele até ao Céu.
14.ª carta: escrita nos últimos momentos da vida, Teresa recorda os projetos passados. Alude ao fatal destino e confessa que já o vê no Céu.
A distância que sempre separou Simão e Teresa levou à invenção de uma forma de comunicação entre os dois, essas cartas. O narrador resolveu o problema, mas aproveitou esta presença para lhes conferir funções diversas. E aí está como um registo discursivo pode alcançar relevância funcional. As cartas são de extensão diferente, não são regulares e o seu discurso não é sempre do mesmo tom.
Elas demonstram através da escrita um sentimento próprio do Romantismo, usado pelos personagens da obra aqui referenciada no decorrer do enredo literário. Elas constituem-se como os registos do que os corações de ambos querem para as suas vidas. Um amor que ultrapassa sofrimentos e usa a renúncia como arma poderosa para fortalecer os desejos mais ardentes do coração humano: o amor. Uma luta contra si mesmo e contras as atrocidades externas para conservar o mais puro desejo da alma, muito embora haja obstáculos sentimentais.
É interessante destacar, também, que encontramos neste romance um exemplo de um verdadeiro grito literário que rompeu com a maneira de pensar e escrever dos estilos literários existentes da época.